terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma mulher inteligente falando de machismo nas entrelinhas...


Ontém fui instigada pelo meu amigo lingüista Victor Veríssimo com o seguinte questionamento: “Somente eu (e pessoas como Duda Vila Nova) enxergam um machismo nas entrelinhas desse texto, ou estamos vendo chifre em cabeça de cavalo? 
(Ahhh! Esses lingüistas e suas manias de ler nas entrelinhas!!). Concorda, Sidinea Pedreira?”

Victor estava se referindo ao texto “Um homem inteligente falando das mulheres”, do escritor Luis Fernando Veríssimo. Resolvi então escrever uma resposta no espaço de discussão criado por Victor, e agora fiz algumas adaptações para publicá-lo aqui no meu blog. Quem sabe, poderemos ampliar ainda mais essa discussão por aqui. Pelo menos, vamos registrá-la. Meu amigo Victor Veríssimo (que não tem a ver diretamente com Luis Fernando Veríssimo, senão a inteligência e intelectualidade, e neste caso, penso que utilizada para combater o machismo), gosto muito das discussões que você levanta no facebook. Pena que não tenho observado a tempo de participar como gostaria. Legal as suas provocações e pensamentos. Penso que a nossa postura deve ser a de sempre desconfiar de tudo! Não podemos ser ingênuos a ponto de pensar que podemos romper com a carga cultural que recebemos ao longo da nossa história e ficarmos impune. Virgínia Woolf fala disso muito bem, quando diz que precisa matar um certo "anjo" que vive dentro dela e que a ensinou a ser condescendente, e ter medo de dizer o que pensa, de criticar conceitos, pessoas, grandes escritores...enfim. De repente poderemos nos surpreender com pensamentos e comportamentos machistas, e isso pode estar muito bem posto em nossas falas, textos e opiniões, como eu penso que está no texto citado de Luis Fernando Veríssimo. Não podemos desconsiderar a trajetória desse escritor. Sabemos que ele é conhecido pelas suas sátiras, e por essa espécie de ironia que até parece crítica, mas que eu, particularmente, acho muito complicado. Nós que combatemos essa velha ideia de uma "essência" ou "natureza" da mulher, não podemos aceitar textos que fazem apologia a essa ideia. Pros diabo essa frase repetida e repetida: "mulher vive de carinho". Carinho, amor, respeito, é necessário não só para a mulher, é para todo ser humano, e até sabemos do efeito disso nos animais....Poderia comentar cada frase, mas, acho que não é necessário.... Mas, é nítido no texto muitos conceitos machistas : a ideia de uma essência ou natureza da mulher, o estereótipo da mulher que espera receber sempre algo do homem - quando não é carinho, atenção, é dinheiro. Podemos ver também a ideia da "femme fatale", que se não recebe algo do seu homem, vai traí-lo pelas costas....a herdeira de Eva....cuidado com ela! Cuide do seu exemplar, senão, sei lá o que ela pode fazer com você!E por fim, essa ideia completamente machista: "Só tem mulher quem pode". O velho estereótipo da mulher consumista, que representa gasto para o homem sempre...enfim. E por que será que o escritor não fala do homem que é gasto para a mulher (tradicionalmente no Brasil, as mulheres trabalham cotidianamente, gastando anos e anos de sua vida e inteligência dentro de uma casa, fazendo trabalhos repetitivos que subestimam sua inteligência, para manter uma casa e família arrumadinha para certos homens exibirem na sociedade). Irônico ou não, o texto corrobora com essa sociedade patriarcal e machista em que vivemos que ainda entende relacionamento como moeda de troca, essa velha ideia divulgada pela imprensa brasileira da década de 50: que as mulheres têm que ter sex appeal para fisgar um bom casamento e se sustentar para o resto da vida, e que o homem deve conseguir a mulher ideal que aceite a submissão em troca de casa, comida e dinheiro, que seja a mãe ideal para os futuros cidadãos brasileiros, e a sustentadora de sua vida social possível. Verdade é que os intelectuais, em todo o mundo, historicamente, foram e ainda são considerados como grandes influenciadores da sociedade e dos governos. Por isso, não podemos ser ingênuos quando alguém escreve algo que aparentemente ironiza o papel da mulher ou a sua importância. Espero que os nossos intelectuais brasileiros (diferentemente daqueles que aparecem na telinha da Globo) não sejam capachos para fomentar leis que instiguem o nosso Congresso (que parece não ter mais o que fazer) a retomar alguma coisa parecida com o velho "Estatuto da Mulher Casada".  É preciso mudar as imagens que temos como referênciais! Textos "novos" virão! Imagens novas virão!

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