Ontém fui instigada
pelo meu amigo lingüista Victor Veríssimo com o seguinte questionamento: “Somente
eu (e pessoas como Duda Vila Nova) enxergam um machismo nas entrelinhas desse
texto, ou estamos vendo chifre em cabeça de cavalo?
(Ahhh! Esses lingüistas e suas manias de ler nas entrelinhas!!). Concorda, Sidinea Pedreira?”
(Ahhh! Esses lingüistas e suas manias de ler nas entrelinhas!!). Concorda, Sidinea Pedreira?”
Victor estava se
referindo ao texto “Um homem inteligente falando das mulheres”, do escritor
Luis Fernando Veríssimo. Resolvi então escrever uma resposta no espaço de
discussão criado por Victor, e agora fiz algumas adaptações para publicá-lo
aqui no meu blog. Quem sabe, poderemos ampliar ainda mais essa discussão por
aqui. Pelo menos, vamos registrá-la. Meu amigo Victor Veríssimo (que não tem a ver diretamente com
Luis Fernando Veríssimo, senão a inteligência e intelectualidade, e neste caso,
penso que utilizada para combater o machismo), gosto muito das discussões que
você levanta no facebook. Pena que não tenho observado a tempo de participar
como gostaria. Legal as suas provocações e pensamentos. Penso que a nossa
postura deve ser a de sempre desconfiar de tudo! Não podemos ser ingênuos a
ponto de pensar que podemos romper com a carga cultural que recebemos ao longo
da nossa história e ficarmos impune. Virgínia Woolf fala disso muito bem,
quando diz que precisa matar um certo "anjo" que vive dentro dela e
que a ensinou a ser condescendente, e ter medo de dizer o que pensa, de
criticar conceitos, pessoas, grandes escritores...enfim. De repente poderemos
nos surpreender com pensamentos e comportamentos machistas, e isso pode estar
muito bem posto em nossas falas, textos e opiniões, como eu penso que está no
texto citado de Luis Fernando Veríssimo. Não podemos desconsiderar a trajetória
desse escritor. Sabemos que ele é conhecido pelas suas sátiras, e por essa
espécie de ironia que até parece crítica, mas que eu, particularmente, acho
muito complicado. Nós que combatemos essa velha ideia de uma
"essência" ou "natureza" da mulher, não podemos aceitar
textos que fazem apologia a essa ideia. Pros diabo essa frase repetida e
repetida: "mulher vive de carinho". Carinho, amor, respeito, é
necessário não só para a mulher, é para todo ser humano, e até sabemos do
efeito disso nos animais....Poderia comentar cada frase, mas, acho que não é
necessário.... Mas, é nítido no texto muitos conceitos machistas : a ideia de
uma essência ou natureza da mulher, o estereótipo da mulher que espera receber
sempre algo do homem - quando não é carinho, atenção, é dinheiro. Podemos ver
também a ideia da "femme fatale", que se não recebe algo do seu
homem, vai traí-lo pelas costas....a herdeira de Eva....cuidado com ela! Cuide
do seu exemplar, senão, sei lá o que ela pode fazer com você!E por fim, essa
ideia completamente machista: "Só tem mulher quem pode". O velho estereótipo
da mulher consumista, que representa gasto para o homem sempre...enfim. E por
que será que o escritor não fala do homem que é gasto para a mulher
(tradicionalmente no Brasil, as mulheres trabalham cotidianamente, gastando
anos e anos de sua vida e inteligência dentro de uma casa, fazendo trabalhos
repetitivos que subestimam sua inteligência, para manter uma casa e família
arrumadinha para certos homens exibirem na sociedade). Irônico ou não, o texto
corrobora com essa sociedade patriarcal e machista em que vivemos que ainda
entende relacionamento como moeda de troca, essa velha ideia divulgada pela
imprensa brasileira da década de 50: que as mulheres têm que ter sex appeal
para fisgar um bom casamento e se sustentar para o resto da vida, e que o homem
deve conseguir a mulher ideal que aceite a submissão em troca de casa, comida e
dinheiro, que seja a mãe ideal para os futuros cidadãos brasileiros, e a
sustentadora de sua vida social possível. Verdade é que os intelectuais, em
todo o mundo, historicamente, foram e ainda são considerados como grandes
influenciadores da sociedade e dos governos. Por isso, não podemos ser ingênuos
quando alguém escreve algo que aparentemente ironiza o papel da mulher ou a sua
importância. Espero que os nossos intelectuais brasileiros (diferentemente
daqueles que aparecem na telinha da Globo) não sejam capachos para fomentar
leis que instiguem o nosso Congresso (que parece não ter mais o que fazer) a
retomar alguma coisa parecida com o velho "Estatuto da Mulher
Casada". É preciso mudar as imagens que temos como referênciais! Textos "novos" virão! Imagens novas virão!
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