quinta-feira, 26 de maio de 2016

TOLERÂNCIA ZERO: ATÉ QUE TODAS NÓS SEJAMOS LIVRES DA CULTURA DO ESTUPRO!


Acordamos hoje, 26 de maio de 2016, com a terrível notícia de que uma jovem de 17 anos foi estuprada por 30 homens no Rio de Janeiro. A bandeira que todas nós, mulheres brasileiras, especialmente nós dos movimentos feministas, levantamos hoje, é a do LUTO. Como nos calar diante de tamanha violação de direitos? Como silenciar nossas vozes diante dessa violência escancarada, dessa cultura do estupro legitimada até mesmo por aqueles que deveriam garantir nossa segurança? À nossa frente está uma sociedade violenta, misógina, escrota, sacana, apodrecida pela impunidade e pelo descaso para com os direitos sociais das mulheres. Os nossos gritos devem ecoar nas ruas! As nossas bandeiras devem ser hasteadas e nelas as vozes de protesto.
Segundo o Mapa da Violência, de novembro de 2015, o Brasil é o 5º país no mundo no ranking da violência contra mulheres. Todos os dias, nesse país, mulheres sofrem violências das mais diversas formas e nos mais diferentes contextos e lugares.
A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Nos últimos 10 anos houve um aumento de 54% no número de homicídios de mulheres, especificamente de mulheres negras. A maioria dessas mulheres era negra e tinham entre 18 e 30 anos.
A cultura da violência contra mulheres é solidificada principalmente pela impunidade que existe no nosso país em relação aos agressores. Pasmem! 99% dos agressores sexuais do Brasil estão soltos. Em 2014, por exemplo, Alexandre Frota contou, num programa de televisão, como havia estuprado uma mulher de religião matriz-africana. Pasmem novamente: ao contar a história do estupro, ele foi aplaudido pelo auditório em meio aos sorrisos dos ouvintes. Até mesmo no Congresso Nacional, podemos visualizar casos de impunidade aos agressores de mulheres. Nesse mesmo ano, o deputado Jair Bolsonaro agressivamente se dirigiu a deputada Maria do Rosário dizendo que não a estuprava porque ela não merecia. E sabem o que aconteceu? Pasmem vocês: ele foi condenado somente a pagar uma indenização de R$ 10 mil reais.  E ainda continua com o mandato, ocupando uma cadeira no nosso legislativo, e sendo pago pelo dinheiro dos nossos impostos. Indenizações e pedidos de desculpas não bastam. Queremos JUSTIÇA! Queremos os criminosos presos!
Estamos diante de uma sociedade que legitima a violência em todas as instâncias, que faz apologia à cultura do estupro e da revitimização (ao expor socialmente as vítimas de violências), e que corrobora para a violação de direitos. Estamos diante de uma sociedade que expõe, culpabiliza e que julga moralmente as mulheres com base em conceitos sexistas, racistas e misóginos.  Convivemos diariamente com a violência não só nas ruas, mas em diversos espaços do nosso país, seja através das “cantadas” machistas, agressivas e misóginas nas ruas, seja nas atitudes machistas de muitos homens, colegas de trabalho, e até mesmo colegas de militância, muitos desses, se dizem defensores dos direitos das mulheres. Na verdade, a sociedade brasileira machista não consegue conviver com a emancipação das mulheres nem tão pouco consegue conviver com a ideia de mulheres ocupando espaços de poder. Uma das estratégias para nos afastar desses espaços é tentativa de deslegitimar, mostrar nossa “incapacidade”, nossa inabilidade, nos culpabilizar até por ser estuprada.
O machismo e a violência estão espalhados por todo o país, até mesmo em lugares que não esperaríamos. Há um movimento de silenciamento das mulheres nesse país. É preciso estar a todo tempo em sentinela, pois a qualquer momento “ os ladrões podem querer roubar” nossos direitos, nossas vozes, mesmo aqueles direitos que conquistamos mediante uma luta histórica, mesmo aqueles direitos garantidos e conquistados através de longos processos democráticos.   
É preciso lutar pela manutenção desses direitos, e ao mesmo tempo, é preciso lutar pelo rigor das punições de nossos agressores. Afinal, onde está o aparelho policial e jurídico desse país? Onde está a mídia que não notícia e nem mobiliza a população contra crimes hediondos como o estupro? O que falta afinal para que justiça seja feita às mulheres que são violadas nesse país?
Falta, na verdade, que as ações de enfrentamento à violência contra as mulheres sejam capilarizadas. É URGENTE: lutar radicalmente para que haja um erradicação da cultura da violência machista em o nosso país, lutar para que seja criada uma consciência pública da não tolerância à violência contra mulheres! Além disso, urgente também se faz, pressionar as instituições oficiais de proteção às mulheres para que deem a sociedade respostas concretas, precisas e em total defesa e reparação das mulheres que sofreram violência. É preciso promover às mulheres o respeito, a proteção e a garantia dos direitos humanos, o que inclui o direito à segurança, à liberdade e ao próprio corpo. Não só o movimento de mulheres no Brasil, mas toda a sociedade brasileira tem a tarefa de lutar pelo acesso à justiça, e de fazer valer as leis que existem e que garantem direitos  e reparação das mulheres que sofrem violências.
           Nenhuma mulher deve ser desrespeitada! Nenhuma mulher deve ser afetada em sua dignidade. Nenhuma mulher deve ser revitimada, sendo exposta socialmente ou culpabilizada ou mesmo vítima de julgamentos morais. Abaixo a cultura do estupro! Abaixo a misoginia! Abaixo a violência! SIGAMOS NA LUTA, COMPANHEIRAS, ATÉ QUE TODAS NÓS SEJAMOS, DE FATO, LIVRES!